quarta-feira, 10 de outubro de 2012
MINERAÇÃO
Que superem o respeito ao esforço limite, pensam, sem querer os homens.
Um sentimento a céu aberto, cada vez mais profundo e escancarado. Marrom.
Fumaça, água, lama, um campo de guerra para quem só quer matar a fome.
O garimpo de mínima dignidade e a subversão da ambição, que supera o esforço limite daqueles homens.
Trinta toneladas de ouro.
A gente sempre acha preciosidades quando cava. Quando quer. E quem quer?
O lugar engana por conta do mundo, do jeito que os homens nos fizeram ver. Vantagens.
Para que cavar e machucar tanto, coletivamente a céu aberto?
Qual o destino do ouro?
Extração mecanizada é a nova ordem.
Havendo alguma crise econômica, se fecha a cava com um lindo lago artificial. Contaminação por mercúrio.
E as pessoas? Também estão abertas. Não sei se tão lindas, mas sim contaminadas pela versão de vantagem que aprenderam a enxergar com os homens de sucesso.
80 mil pessoas. Muito sonho por m².
Viver história. Hoje podemos decidir como.
*Aos trabalhadores de Serra Pelada em 1980 - Pará - Município de Curionópolis
O formigueiro humano ficou para trás, histórias de vida enterradas. No lugar onde funcionava o garimpo, agora é um imenso lago que toma conta da paisagem. Os barrancos ficaram submersos. Não existe mais a corrida pelo ouro, mas essa região continua rica em minérios. Uma associação de 38 mil garimpeiros hoje é dona desse lugar.
Uma empresa canadense está associada aos garimpeiros locais. Os primeiros levantamentos feitos pela empresa canadense no terreno indicaram a presença de, pelo menos, 50 toneladas de metal precioso, ouro, platina, paládio.
A "Nova Serra Pelada", como foi batizada, deve entrar em operação no segundo semestre de 2013.
domingo, 7 de outubro de 2012
SAÍDA DE EMERGÊNCIA
Saudade é deixar quem você ama crescer.
Saudade é também partir, consciente da necessidade de novos territórios.
O slogan é saudade, mas o sentimento é muito maior.
Não é querer de volta. É saber como foi.
História. Estória.
Saudade é coisa nossa e não quero traduzir.
Com o tempo a gente decifra.
Saudade da saudade que vou sentir.
Insegurança? Talvez não.
Não estamos seguros.
O salva vidas é ser o que é.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
A OBRIGATORIEDADE DO INGRESSO EXTRA
E de repente surge a necessidade de se acumular uma série de medos refletidos.
Os fios de cabelos brancos gritam em minha cabeça e meus amigos dizem que devo me preocupar. Também devo me preocupar com a disposição dos móveis da sala, com a separação do lixo como se houvesse alguma conversão de processo e com o problema de estar só.
Mantenho-me em silêncio com um sorriso bem escondido, eles também querem esconder grandes problemas com pequenas engenharias musculares. É nosso instinto.
Todo ingresso cortesia que recebo é válido para duas pessoas.
Piadas demais, opiniões, alegria gratuita e todos os insumos de festa para uma vida que não está em comemoração.
Como adquirir essa lente? Eu enxergo ao vivo, do jeito que é, e o que enxergo não me dá margem a alegria desesperada que essa ordem de vida exige.
Tudo bem de não ser feliz assim como você? Que bom.
Esse trânsito sentimental me aborrece.
O BREVE
Ainda uso as palavras como vingança.
Gosto de guardá-las, escritas, nunca ditas a quem mais precisava ouvir.
A tentativa da argumentação planta o abandono mais desejado. Podemos começar por aí.
Uma certa preguiça qualificada que me habita e estimula o silêncio, a boa vizinhança, a tolerância dos bons que tive que aprender para sobreviver desaprendendo.
Fingir é um lema perverso, ferir é figurado, a prática teoriza e assim ficamos aqui, de braços dados vendo o sol nascer todos os dias.
Gostamos de inventar um mundo novo e completo dentro da gente, só que as vezes ele vai embora sem nunca ter existido.
Temos que ouvir opiniões com tolerância. Amor demais leva ao fracasso. O que é o entusiasmo?
Talvez eu admire os que acordam dispostos ao entusiasmo movido a esperanças breves.
A moça que espera o amor, o homem trabalhando pelo sustento do seu prazer, a criança vivendo para entender o que deve esperar. Eu já abandonei as expectativas.
Me preservo, convivo com gatos, ainda gosto de ouvir o eco dos carros na rua que insistem em ir e vir baseados no conceito de liberdade que devemos ter nessa lógica da liberdade capital.
Concordo e discordo.
Cada vez menos amigos, o que é bom.
Uma breve insônia da vida me retira todo o direito de sonhar.
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