quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A OBRIGATORIEDADE DO INGRESSO EXTRA

E de repente surge a necessidade de se acumular uma série de medos refletidos. Os fios de cabelos brancos gritam em minha cabeça e meus amigos dizem que devo me preocupar. Também devo me preocupar com a disposição dos móveis da sala, com a separação do lixo como se houvesse alguma conversão de processo e com o problema de estar só. Mantenho-me em silêncio com um sorriso bem escondido, eles também querem esconder grandes problemas com pequenas engenharias musculares. É nosso instinto. Todo ingresso cortesia que recebo é válido para duas pessoas. Piadas demais, opiniões, alegria gratuita e todos os insumos de festa para uma vida que não está em comemoração. Como adquirir essa lente? Eu enxergo ao vivo, do jeito que é, e o que enxergo não me dá margem a alegria desesperada que essa ordem de vida exige. Tudo bem de não ser feliz assim como você? Que bom. Esse trânsito sentimental me aborrece.

O BREVE

Ainda uso as palavras como vingança. Gosto de guardá-las, escritas, nunca ditas a quem mais precisava ouvir. A tentativa da argumentação planta o abandono mais desejado. Podemos começar por aí. Uma certa preguiça qualificada que me habita e estimula o silêncio, a boa vizinhança, a tolerância dos bons que tive que aprender para sobreviver desaprendendo. Fingir é um lema perverso, ferir é figurado, a prática teoriza e assim ficamos aqui, de braços dados vendo o sol nascer todos os dias. Gostamos de inventar um mundo novo e completo dentro da gente, só que as vezes ele vai embora sem nunca ter existido. Temos que ouvir opiniões com tolerância. Amor demais leva ao fracasso. O que é o entusiasmo? Talvez eu admire os que acordam dispostos ao entusiasmo movido a esperanças breves. A moça que espera o amor, o homem trabalhando pelo sustento do seu prazer, a criança vivendo para entender o que deve esperar. Eu já abandonei as expectativas. Me preservo, convivo com gatos, ainda gosto de ouvir o eco dos carros na rua que insistem em ir e vir baseados no conceito de liberdade que devemos ter nessa lógica da liberdade capital. Concordo e discordo. Cada vez menos amigos, o que é bom. Uma breve insônia da vida me retira todo o direito de sonhar.