Esfregue os olhos.
Aponte uma estrela.
Ficou difícil respirar por estes dias que pedem chuva. Parece que tem algo entalado na garganta. Talvez, palavras...
Dá prá sentir o cabelo crescer. É sério.
Hormônios?
Não sei.
Comprei 7 livros. Nem sei por qual começar.
O lustre balança quando o ventilador fica prá lá e prá cá.
Eu fico aqui, parada. Sonhando que o liquidificador falava lentamente enquanto as pessoas ao meu redor falam ligeiramente. Um pesadelo da vida real.
Tédio?
Não sei...talvez. .
E o computador bem na minha frente...o gerente lá atrás, de olho. Dizem que escritórios sem salas faz com que se trabalhe melhor. Sei.
Plic Plic Plic...tem gente batendo no teclado. Uma sinfonia só. O cara fica lá maestrando. Ele tem cadeira grande, de gerente.
Minha mesa?
Tem só o copo de café vazio, a maldita tela que me deixa vesga, revistas e uma parede bége em tecido. Lá eu espeto os recados, listas de ramais, telefone dos fornecedores e o vudu que fiz para o João Dória Jr.
Preguiça.
domingo, 17 de fevereiro de 2008
domingo, 10 de fevereiro de 2008
GRITO A ROMA
os negros que tiram para fora as escarradeiras,
os rapazes que tremem sob o terror pálido dos diretores,
as mulheres afogadas em óleos minerais,
a multidão do martelo, de violino ou nuvem,
há-de gritar, ainda que lhes estorem os miolos contra o muro,
há-de gritar frente às cúpulas,
há-de gritar louca de fogo,
há-de gritar louca de neve,
há-de gritar com a cabeça cheia de escrementos,
há-de gritar como todas as noites juntas,
há-de gritar com uma voz tão rasgada até que as cidades tremam como meninas e rompam as prisões do óleo e da música.
Porque nós queremos o pão nosso de cada dia,
flor de amieiro e perene ternura debulhada,
porque nós queremos que se cumpra a vontade da Terra que dá seus frutos para todos.
Federico de Garcia Lorca
1929
os rapazes que tremem sob o terror pálido dos diretores,
as mulheres afogadas em óleos minerais,
a multidão do martelo, de violino ou nuvem,
há-de gritar, ainda que lhes estorem os miolos contra o muro,
há-de gritar frente às cúpulas,
há-de gritar louca de fogo,
há-de gritar louca de neve,
há-de gritar com a cabeça cheia de escrementos,
há-de gritar como todas as noites juntas,
há-de gritar com uma voz tão rasgada até que as cidades tremam como meninas e rompam as prisões do óleo e da música.
Porque nós queremos o pão nosso de cada dia,
flor de amieiro e perene ternura debulhada,
porque nós queremos que se cumpra a vontade da Terra que dá seus frutos para todos.
Federico de Garcia Lorca
1929
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
CHUVA, SUOR E CERVEJA
Deus nasceu na Bahia. Seu apelido é Dendê.
É um crioulinho que passa batido pelas ladeiras infinitas com aroma urina.
Dendê vê os estupros de livros e mulheres.
Dendê vê os que sugam negras e aluguéis.
Dendê vê os que dizem que São Jorge é guerreiro.
Vê e vê, mas se cala. Apenas oferece com seus olhos descrentes os adornos que resumem o Brasil em lembranças e pequenices.
Dendê é preto de alma branca...é isso que disseram.
Disseram também que quem espera sempre alcança, e quem não chora não mama.
Dendê sonha com a paz na Suécia, mas não sabe o por quê de tanta confusão no bar da esquina.
Dendê vê que a polícia nos dispersa e que o futebol nos conclama.
Dendê nativo sabe o porque do Ma c'ubah than, que virou Yucatan para os espanhóis que aqui chegaram. Dendê sabe que os nativos só queriam dizer:"nós não vos entendemos".
Dendê sabe que jamais entenderá os homens e que esse lema valalerá para tudo.
Sabe também que quando achar que decifrou o mundo, alguém dará gargalhadas ao seu lado.
Dendê sabe que Caetano Veloso tem potencial para explicar o sofrimento do nosso povo, mas se limita ao mesclar canções de amor e ódio em seus álbuns.
Existem sentimentos que não caminham juntos, mesmo dizendo que sim em alguns velhos ditados.
Jesus Cristo nos mata num carnaval de mulatas.
Dendê espera a quarta-feira de cinzas. Chora. Chove.
Pede cachaça e brahma, derrama suor e finaliza em cinzas.
De confete, apenas o seu coração vazio e monocromático.
É um crioulinho que passa batido pelas ladeiras infinitas com aroma urina.
Dendê vê os estupros de livros e mulheres.
Dendê vê os que sugam negras e aluguéis.
Dendê vê os que dizem que São Jorge é guerreiro.
Vê e vê, mas se cala. Apenas oferece com seus olhos descrentes os adornos que resumem o Brasil em lembranças e pequenices.
Dendê é preto de alma branca...é isso que disseram.
Disseram também que quem espera sempre alcança, e quem não chora não mama.
Dendê sonha com a paz na Suécia, mas não sabe o por quê de tanta confusão no bar da esquina.
Dendê vê que a polícia nos dispersa e que o futebol nos conclama.
Dendê nativo sabe o porque do Ma c'ubah than, que virou Yucatan para os espanhóis que aqui chegaram. Dendê sabe que os nativos só queriam dizer:"nós não vos entendemos".
Dendê sabe que jamais entenderá os homens e que esse lema valalerá para tudo.
Sabe também que quando achar que decifrou o mundo, alguém dará gargalhadas ao seu lado.
Dendê sabe que Caetano Veloso tem potencial para explicar o sofrimento do nosso povo, mas se limita ao mesclar canções de amor e ódio em seus álbuns.
Existem sentimentos que não caminham juntos, mesmo dizendo que sim em alguns velhos ditados.
Jesus Cristo nos mata num carnaval de mulatas.
Dendê espera a quarta-feira de cinzas. Chora. Chove.
Pede cachaça e brahma, derrama suor e finaliza em cinzas.
De confete, apenas o seu coração vazio e monocromático.
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