domingo, 10 de fevereiro de 2008

GRITO A ROMA

os negros que tiram para fora as escarradeiras,
os rapazes que tremem sob o terror pálido dos diretores,
as mulheres afogadas em óleos minerais,
a multidão do martelo, de violino ou nuvem,
há-de gritar, ainda que lhes estorem os miolos contra o muro,

há-de gritar frente às cúpulas,
há-de gritar louca de fogo,
há-de gritar louca de neve,
há-de gritar com a cabeça cheia de escrementos,
há-de gritar como todas as noites juntas,
há-de gritar com uma voz tão rasgada até que as cidades tremam como meninas e rompam as prisões do óleo e da música.

Porque nós queremos o pão nosso de cada dia,
flor de amieiro e perene ternura debulhada,
porque nós queremos que se cumpra a vontade da Terra que dá seus frutos para todos.

Federico de Garcia Lorca
1929

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